sábado, 28 de julho de 2007

F. P. de cancêr...

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O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe,
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
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Fernando Pessoa era canceriano... só pode...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Inferno...


Inferno:

  1. Do latim infernum, cujo significado etimológico pode ser compreendido por: “que está embaixo” ou “inferior”. Possui como variações: “as profundezas da terra”, “regiões inferiores” ou “das sombras”. Seu uso, no português medieval, data do século XIII, e, para os cristãos, costuma representar o lugar ou situação pessoal em que as almas pecadoras se encontram após a morte, submetidas a penas eternas. Dante Alighieri, ao longo de sua Divina Comédia, estabelece uma cartografia deste espaço de purgações a partir da hierarquização das fraquezas humanas da carne e do espírito. Divide seu inferno em nove níveis, onde a intensidade do horror é concernente à gravidade do pecado. O descreve como lugar lúgubre, de luxúrias e corpos lassos. Morada de hereges que ardem em fogo e de assassinos que cozinham em um rio de sangue fervente. Discorre sobre florestas escuras e sem trilhas, onde falanges de suicidas crescem por toda a eternidade compondo espinheirais tortos e peçonhentos. As harpias, monstros de imensas asas, barrigas emplumadas, rostos humanos e garras talhantes, aninham-se nestas árvores atrofiadas e mordiscam suas folhas. Ao longo das florestas, ouvem-se apenas lamúrias. No último nível, a temível morada de Lúcifer, o pior dos pecados, a traição, tem por pena a prisão, a impotência e a imobilidade eterna em espaço gélido e intocado por qualquer vestígio de luz ou calor. Lugar sinistro, feral e apavorante. Infernal. Sandro Boticelli e Willian Blake, entre outros, dedicaram-se a recriar em tintas e pena os cantos de Alighieri. Somos, hodiernamente, revisitados por tais representações de tormento e dor...

Primeiro parágrafo do primeiro capítulo da minha primeira dissertação de mestrado... =)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sobre jardins e flores...

Não! Esta não é uma idéia original. Na verdade, é uma descarada e assumida apropriação. Não chega a ser uma cópia, mas uma reelaboração sobre a idéia de outrem. Se me aproprio, no entanto, não é por incompetência ou comodismo, mas por concordância e admiração. Até porque não sei até que ponto é possível uma idéia original e revolucionaria. A “metáfora perfeita”. Não pensamos, afinal, a partir de coisas e elementos já pensados outrora? Seja como for, pensando pensamentos originais ou pensando pensamentos já pensados, não é a isto que me proponho no momento. Poderia, é claro, alongar-me por algumas páginas e tentar descobrir a essência da famigerada originalidade. No entanto tal empreitada seria demasiado pretensiosa e despropositada. Falemos, portanto, dos jardins.
Como são belos os jardins! Floridos, coloridos, vivos... Não falo de meros canteiros com flores iguais, equiparadas, controladas, mas de jardins impressionistas, como aqueles sagazmente retratados pelas pinceladas de Monet ou Renoir. Desiguais, disformes e impressionantemente belos. Creio que a beleza deles advenha exatamente da disformidade. Da ausência de uma métrica específica. Da diferença. Eis a palavra que buscava. Eis a palavra que me levará dos jardins à sala de aula. Diferença!
A sala de aula muito me lembra um jardim. Não sou a primeira a fazer esta constatação. Rubem Alves já o fez e, certamente, alguém o precedeu. Mas façamos de novo. Os jardins são muitos, as salas de aulas, incontáveis, e as reflexões possíveis multiplicam-se a cada novo olhar.
Na matriz curricular dos cursos de história deveria existir uma disciplina referente à prática da jardinagem. Técnicas de cultivo, plantio, cuidados específicos e quaisquer outros elementos que auxiliassem na manutenção de flores e folhagens. Digo isto porque estar em sala de aula como professora de história é, para mim, equivalente a cuidar de um jardim.
O que um jardineiro faz em um jardim? Antes de tudo ele planta. Está certo que muitas vezes as sementes são cuidadosamente escolhidas, mas não há como ter segurança em relação às flores que brotarão. Nenhuma flor é igual. Coloração, formato, perfume...Mesmo que as diferenças sejam sutis, elas existem. Isso sem falar nos diferentes tipos de flores que encontramos em um jardim. Orquídeas, rosas, tulipas, bromélias, flores do campo entre outras. Um bom jardineiro deve saber que a quantidade de calor, água, luminosidade nunca é a mesma, varia sempre, e que se faz necessário extremo cuidado e sensibilidade para que parte do jardim não desfaleça.
O que faz o professor de história em sala de aula? Planta idéias. E só. Não traz verdades. Apenas planta idéias sem a segurança de resultados – se resultarem em algo. Isso porque os alunos, assim como as flores, nunca são iguais. E voltamos à diferença. Negros, brancos, pardos, gordos, magros, inteligentes, malandros, dedicados, desleixados, ricos, pobres... Estereótipos. Apenas estereótipos que superlativizam idiossincrasias e especificidades. Escracham a diferença, transformando-a em motivo de piada. Inibem potenciais e reforçam ainda mais aquilo que é visto como “problema”. O que entristece ainda mais é o fato de que quem atribui, constrói e reforça os estereótipos são, não raro, os próprios professores de história. Talvez por não terem aulas de jardinagem em seus cursos de formação.
Pois bem, lidar com a diferença em sala de aula não é, amiúde, tarefa simples. Passará a ser, no entanto, quando diferença deixar de ser sinônimo de problema. Quando falo de uma tarefa simples, não quero dizer simplista. Entenda-se simples no sentido de que se trata de uma prática hodierna que é dinâmica. Não necessita de complexas elucubrações. Clama sim por inusitadas reflexões. A tarefa, em si, pode ser simples – ao menos acredito nisto. Pode ser tão simples quanto cuidar de um jardim.
Em um jardim, são exatamente as peculiaridades que compõe e determinam beleza de cada flor. Um conjunto dessas peculiaridades forma, destarte, um belo jardim. E por que a sala de aula não pode ser encarada da mesma forma? Por que a diferença não pode ser ressaltada de forma a contribuir no processo educativo como um componente a ser valorizado, e não velado, transformado em tabu? Em um jardim, não se ressalta o perfume de uma orquídea em detrimento da tulipa. Por que, então, a necessidade de classificar alunos como melhores ou piores? Por que a necessidade de quantificá-los em notas (5.0, 7.0, 10.0) e transformar as notas em caráter identitário, como se a mesma representasse exatamente aquilo que o aluno é? E ainda que fosse possível saber exatamente aquilo que o aluno é, por que aprisioná-lo em um conceito? Qual o problema em compreender as pessoas como múltiplas? Por que não trabalhar exatamente esta multiplicidade?
Respostas...Não tenho... Resta-me apenas voltar ao início e preparar algumas sementes...

terça-feira, 10 de julho de 2007

A pessoa mais incrível que jamais conheci.

A pessoa mais incrível que jamais conheci.
A um amigo em potência.


Sim. Nunca conversamos. Em termos, na verdade. Vi, ouvi e sei que, certamente, é uma das pessoas mais incríveis que jamais conheci. Como voyeur, deleito-me no interstício, no hiato inapreensivelmente grande que surge, de súbito, em um instante. Paradoxal por conceito, porém vívido além da palavra ou antes dela. De súbito também aparecem devires. Assuntos, temores, temas, tramas e traumas que existem apenas em potência.
Como sei que esta, logo esta que não me sabe, é a pessoa mais incrível que jamais conheci? Explico. Trata-se daqueles que gostamos, ainda que não o tenhamos encontrado, mas reconhecido entre tantos outros como ente querido. Segundos são suficientes. A pessoa mais incrível pode, de fato, ser um conhecido. Ser aquele que cumprimentamos com um opaco aceno ou pelo qual passamos cegos, ofuscados em busca do fantástico. Pode também ter (ser) passado, apressado, desinteressado, elencando pessoas incríveis, inatingíveis, inexistentes. Manifestações únicas de desejo. Devires, uma vez mais.
A pessoa mais incrível que jamais conheci não me conhece, todavia. Talvez nem queira conhecer e isso gera a angustiante sensação de impotência. Como fazer para conhecer, finalmente, a mais incrível pessoa jamais conhecida?
Nada por fazer, apenas ser...
Estar...
Infinitivos na infinita espera pela possibilidade do ínfimo.
Cá estou então, a esperar.





*Em destaque, frase roubada do amigo Victor Taiar.

domingo, 1 de julho de 2007

O mundo é uma poesia!

Pois é... acho que vou transformar isso aqui num aglomerado de poesias...
Ninguém lê mesmo, entou vou postá-las apenas para acalentar e massagear meu ego! O Blog é meu, posto o que eu quero...
Algum dia criarei coragem e postarei algo escrito por mim... algum dia.
Segue minha "descoberta" da semana... "Guardar" de Antônio Cícero.

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Bom julho para todas e todos!!!